sexta-feira, 27 de abril de 2012

ouço Gillian


ouço Gillian
e a música escorre-me corpo abaixo.

tão leve a poeira das estrelas, enorme
é o peso que exerce sobre mim.
parece-se contigo
quando me amas e deslizas, suave,
na minha pele,
em momentos de torpor abandonado.
não estou adormecido.

apetece-me só ficar deitado e olhar,
abraçado,
pela janela do teu quarto as estrelas
bem longe, lá ao fundo,
minúsculos pontos que são os nossos.
vejo tão longe, tão escuro que o fundo do mar
chega a estar ali bem perto, à mão de semear.

é só mais um minuto, só mais um, e a pressão e a tensão
do teu corpo, das estrelas e da música de Gillian
mantêm-me acordado,
outra vez pronto a amar.
ouço o dedilhar da guitarra e respiro fundo.
é urgente:
não posso deixar de te beijar!

Gillian Welch - Revelator

2 comentários:

  1. sim, o Tempo revela tudo... o poema é lindo demais. que caiam sp poeiras de estrelas no seu quarto...

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  2. Um céu e nada mais
    Um céu e nada mais - que só um temos,
    como neste sistema: só um sol.
    Mas luzes a fingir, dependuradas
    em abóbada azul - como de tecto.
    E o seu número tal, que deslumbrados
    eram os teus olhos, se tas mostrasse,
    amor, tão ribalta azul, como de
    circo, e dança então comigo no
    trapézio, poema em alto risco,
    e um levíssimo toque de mistério.
    Pega nas lantejoulas a fingir
    de sóis mal descobertos e lança
    agora a âncora maior sobre o meu
    coração. Que não te assuste o som
    desse trovão que ainda agora ouviste,
    era de deus a sua voz, ou mito,
    era de um anjo por demais caído.
    Mas, de verdade: natural fenómeno
    a invadir-te as veias e o cérebro,
    tão frágil como álcool, tão de
    potente e liso como álcool
    ímplodindo do céu e das estrelas,
    imensas a fingir e penduradas
    sobre abóbada azul. Se te mostrasse,
    amor, a cor do pesadelo que por
    aqui passou agora mesmo, um céu
    e nada mais -que nada temos,
    que não seja esta angústia de
    mortais (e a maldição da rima,
    já agora, a invadir poema em alto
    risco), e a dança no trapézio
    proibido, sem rede, deus, ou lei,
    nem música de dança, nem sequer
    inocência de criança, amor,
    nem inocência. Um céu e nada mais.



    Ana Luísa Amaral
    de Às Vezes o Paraíso


    pra voce c amizade

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