ouço Gillian
e a música escorre-me corpo abaixo.
tão leve a poeira das estrelas, enorme
é o peso que exerce sobre mim.
parece-se contigo
quando me amas e deslizas, suave,
na minha pele,
em momentos de torpor abandonado.
não estou adormecido.
apetece-me só ficar deitado e olhar,
abraçado,
pela janela do teu quarto as estrelas
bem longe, lá ao fundo,
minúsculos pontos que são os nossos.
vejo tão longe, tão escuro que o fundo do mar
chega a estar ali bem perto, à mão de semear.
é só mais um minuto, só mais um, e a pressão e a tensão
do teu corpo, das estrelas e da música de Gillian
mantêm-me acordado,
outra vez pronto a amar.
ouço o dedilhar da guitarra e respiro fundo.
é urgente:
não posso deixar de te beijar!
Gillian Welch - Revelator
sim, o Tempo revela tudo... o poema é lindo demais. que caiam sp poeiras de estrelas no seu quarto...
ResponderEliminarUm céu e nada mais
ResponderEliminarUm céu e nada mais - que só um temos,
como neste sistema: só um sol.
Mas luzes a fingir, dependuradas
em abóbada azul - como de tecto.
E o seu número tal, que deslumbrados
eram os teus olhos, se tas mostrasse,
amor, tão ribalta azul, como de
circo, e dança então comigo no
trapézio, poema em alto risco,
e um levíssimo toque de mistério.
Pega nas lantejoulas a fingir
de sóis mal descobertos e lança
agora a âncora maior sobre o meu
coração. Que não te assuste o som
desse trovão que ainda agora ouviste,
era de deus a sua voz, ou mito,
era de um anjo por demais caído.
Mas, de verdade: natural fenómeno
a invadir-te as veias e o cérebro,
tão frágil como álcool, tão de
potente e liso como álcool
ímplodindo do céu e das estrelas,
imensas a fingir e penduradas
sobre abóbada azul. Se te mostrasse,
amor, a cor do pesadelo que por
aqui passou agora mesmo, um céu
e nada mais -que nada temos,
que não seja esta angústia de
mortais (e a maldição da rima,
já agora, a invadir poema em alto
risco), e a dança no trapézio
proibido, sem rede, deus, ou lei,
nem música de dança, nem sequer
inocência de criança, amor,
nem inocência. Um céu e nada mais.
Ana Luísa Amaral
de Às Vezes o Paraíso
pra voce c amizade