segunda-feira, 16 de abril de 2012

De como a Vida e a Morte, o Bem e o Mal, a Natureza e a Graça se confundem



De como a Vida e a Morte, o Bem e o Mal, a Natureza e a Graça se confundem

The Tree of Life (A árvore da vida), de Terrence Malick, inicia-se com um discurso que coloca em questão a dualidade, ou melhor, o maniqueísmo entre a Natureza e a Graça. Se aquela representa o mal, pela imposição da força sobre tudo e todos, estoutra impele-nos para o Bem, para a aceitação e a sujeição à realidade que nos circunda, mediante a constante presença do amor, e do perdão.
Após a colocação de uma questão bíblica de introdução surge-nos logo nos minutos iniciais a morte, a que não assistimos, do personagem principal, e de que apenas ficámos a saber, por via indirecta, mediante a leitura de uma carta, entregue à pressa mas como que a medo de dar uma má notícia, por um carteiro que logo logo se afasta, que morre ainda jovem - suicídio? guerra? acidente? desacato? homicídio? (diversas possibilidades ficam em aberto, embora a primeira me pareça a mais crível, dado tratar-se de um personagem um tanto depressivo.
Neste caso, o realizador apresenta a mãe do rapaz rebelde e insolente como sendo o bem. Companheira permanente, trata dos filhos com todo o esmero e dá-lhes o mimo e atenção que precisam, perdoa-os mesmo quando sabe que cometeram erros potencialmente demasiado perigosos. Já o pai, tradicional chefe de família, sempre em busca de mais sucesso (e dinheiro, poi sé assim que ele se mede) é um homem ausente que tenta impôr permanentemente a sua presença. Castiga os filhos por tudo e por nada, sobretudo o tal, o mais velho de 3 irmãos, que com o segundo mantém uma ligação extremamente forte de confiança (amor, poder-se-á dizer), embora tenha também o intuito de, por essa via, criar rapazes fortes capazes de singrarem na vida: "Se formos bons, estamos tramados" é o seu lema.
O pai trabalha no exterior e passa a vida fora de casa. Os filhos vivem rodeados pela mãe, que os inspira e lhes dá a conhecer Deus.
É esse deus, fonte de vida, mas também poder maior sobre ela, que é aqui colocado em questão ao longo de todo o filme. No meu ponto de vista, é-nos permitido considerar uma e outra questão como válidas. O autor não impõe a presença de Deus como determinante no rumo da vida parecendo que o acaso e as circunstãncias, no fim de contas, possam ser tão ou igualmente importantes como a sua existência para a determinação daquilo que a vida é.
Malick alterna belíssimas imagens da vida familiar americana de um bairro de classe média, talvez dos anos 40, com múltiplas outras referências ao fogo, à água, à terrra , ao ar, os 4 elementos simbólicos da vida desde há milhares de anos. Aliás, apresenta mesmo cenas da evolução da vida na Terra, fusões celulares, vulcões em erupção, tempestades no mar, imagens do céu sereno e tranquilo como elementos que, em certa medida, se confundem e estão sempre presentes e influenciam a nossa vida quotidiana, neste caso dos próprios personagens.
O narrador é o irmão do meio, o tal com que o mais velho se entende, apesar de por vezes o assustar e lhe fazer sentir medo. Este tem uma vida de aparente sucesso numa grande cidade e empresa, mas nesse dia em que toma conhecimento da morte do irmão fica também a saber das enormes dificuldades em que a sua empresa está metida.
Se já quase no final todos os personagens se cruzam, uns com os outros e nas várias idades que os vemos representar, traduzindo-nos de forma maravilhosa uma imagem da presença imutável da importância das nossas memórias ao longo da vida, deixa, no entanto, o filme em aberto, ou pelo menos assim parece, em relação à saída que dá a esse tal irmão do meio, clarificando as incertezas sobre o futuro na medida em este "a Deus pertence".



imagem: Terrence Mallick


Alexandre Desplat - The tree of lime, ost preview
http://www.youtube.com/watch?v=3QDVpW9bBxg

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