quarta-feira, 18 de abril de 2012

o mar entre nós dois


estou aqui; e tu,
aí.

longe, bem longe de mim.

há um oceano entre nós dois.
é tanto o que nos une;
mais ainda
o que nos separa.

de um pequeno,
ínfimo glóbulo de orvalho em repouso
na folha da laranjeira
pela manhã,
o desassossego
converteu-se num abismo
onde os continentes e as mágoas
se afundam.

com o aproximar
da madrugada,
a gota nasceu
em destino inadiável.
pouco a pouco
juntou-se
a mais uma e a mais outra,
fez-se pérola
e como brilhante fio de virgem prata
caiu.
afundou-se na terra escura.
esfumou-se.

mas mil outras gotas
oriundas dessa deslumbrante copa
se lhe seguiram:
dia a dia,
mês após mês,
essa gota, essa gotícula evoluiu
em má sina improrrogável.

abaixo da superfície,
de todos escondida,
essas tão tristes lágrimas
deram origem a um lago
que depois se fez corrente
e essa torrente
depressa
fugiu de nossas mãos.
esse tudo essencial corria,
escapava-se entre os dedos,
todo ele
excepto uma finíssima película de água
onde, sequiosos,
de tempos a tempos
íamos beber
do nosso amor.

era já uma ribeira
de imparável caudal.
era só mais uma gota
e logo, logo
estava aí a enxurrada.

ribeira, ribeira, ribeira,
flui o rio, faz o mar,
acaba, assim,
a conjugação deste verbo
amar.

imagem: Mário Cesariny

Kenny Wheeler - What now?
http://www.youtube.com/watch?v=ppeE0HB5gvg

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