quinta-feira, 26 de abril de 2012

nascer



nascer.
nasço.
nasci.
nasço a todo o dia
e a toda a hora.

quando nasci,
da primeira vez em que nasci,
quero dizer,
nasci com demora.
foi um tempo
de desora.

não nasci
no mês de abril
de sol e flores
e águas mil.
foi em setembro.
nasci no setembro
dos campos secos
e devastados,
já colhidos e fresados.

sou já de ontem,
não nasci por agora,
mas tanto me faz que hoje
seja julho, dezembro ou fevereiro
que renasço
também por ora:
em cada minuto, em cada segundo,
em cada hora.

nascer…
nascer, nasci.
vi a terra,
vejo o mar,
ouço os pássaros na primavera
em paixão despudorada,
sinto em teus gestos,
quando me tocas,
a graça e a candura da tua pele,
provo o sal de teu sangue, suor e lágrimas
de amor,
infinito amor
de quem também me imaginou
e ao mundo quis trazer;
mas nascer é tão comprido
que nem sequer termina
ao morrer.

imagem: Misha Taylor

Miles Davis - Time after time

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